Fita K7: A Fita Compacta Que Ganhou o Mundo

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Elas surgiram em 1963 com a ideia de tornar a música portátil. Em contrapartida aos LPs, que eram grandes, elas facilitavam muito o transporte e ocupavam pouco espaço para guardar. Estamos falando das fitas cassete ou, fita K7, como ficaram popularmente conhecidas. Com qualidade de som duvidosa, permitia gravar até 45 minutos em cada lado, dependendo do modelo, mas necessitava ser rebobinada caso quisesse ouví-la novamente. Por outro lado, ajudou muito nas bandas de garagens a gravar suas músicas e virou febre com a chegada do walkman. Muitas equipes de som utilizaram bastante as fitas.

No artigo de hoje entrevistamos um Dj que fazia parte de uma equipe de som nos anos 80 que também utilizavam as fitas para nas festas que produziam. Aqui ele conta as aventuras e desventuras numa época de muito sucesso das inesquecíveis K-7.

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fita k7
Fitas K7

Bate Papo sobre a Fita K7

VOUNOFLASH – Qual foi o primeiro contato com as fitas K-7?

Dj DJésus – Primeiro contato com as fitas K-7 foi para tocar num 3 x 1 Sharp, que gravava direto do rádio. Quem nunca ficou torcendo para o locutor não falar bem no finalzinho da música, para não atrapalhar a gravação? Ou que não xingava o locutor quando resolvia falar, logo após o início da música? Depois, trabalhando na Rádio Cidade, o William Galvão me explicou que os locutores sabiam que isso não agradava aos ouvintes, mas que eles se especializavam nisso. Tinha até nome: era queimar a introdução (termo feio, né?) da música. Consistia em conseguir fazer locução em toda a parte instrumental da música, até que o cantor iniciasse a letra. Outro contato que também tive com as fitas k-7 foi no carregamento de programas de computador, que antigamente também se utilizavam desta mídia , uma vez que os computadores domésticos  da época não possuíam HD e quando se desligava o aparelho, se perdiam as informações, caso não fossem gravadas nas fitas, com gravadores comuns, de música mesmo.

VOUNOFLASH – Quais eram as vantagens de se usar K-7 nos eventos?

Dj DJésus – A distribuição de músicas nos anos 80 não era como hoje, onde se dependia de pessoas com acesso a discos importados para se ter a última música do momento. Raros e caros, quando se tinha a oportunidade, o jeito era fazer uma cópia da música em k-7 para utilização nos eventos. Além disso, hoje você monta uma seleção de músicas digitalmente, coloca o player para fazer a passagem de uma música para outra nos últimos 5 ou 10 segundos e pronto… já se tem uma sequência de músicas para se tocar na abertura de um evento, por exemplo, ou enquanto o DJ se ausenta por algum motivo. Naquela época, a solução também era a fita K-7. Gravava-se a sequência, mixada ou não e a aproveitava nos momentos diversos dentro de um evento. Na hora da música lenta, por exemplo.

VOUNOFLASH – Como sabiam quais músicas continham em cada fita?

Dj Jésus – Quando as músicas eram gravadas inteiras, para se tocar individualmente, se escrevia no encarte da caixinha o nome da música e a numeração onde cada música começava,  pois o player ia demonstrando esta contagem. E não podia esquecer de zerar, quando começasse a tocar o k-7, para não se perder tempo localizando as músicas. Nos equipamentos mais modernos, se você deixasse um espaço de 3 segundos entre uma faixa e outra, ele localizava automaticamente este espaço. No início funcionava bem… depois não localizava mais. Imagine, você querer tocar a última música de um dos lados da fita (sim, ela também tinha lado A e lado B), que está no começo… Tinha que rodá-la inteira. Não havia atalho. Bem diferente de apenas colocar no início da faixa no vinil.

VOUNOFLASH – os DJs mixavam usando as k-7?

Dj DJésus – Naquela época já existia o DJ Play, que trabalhava apenas com fita K-7 já mixadas e prontas para o evento. A sequência mixada era colocada para tocar e se torcia apenas para a fita não enganchar (isso era terrível) ou cair a qualidade, o que poderia sinalizar que era apenas um K-7 rodando. Hoje, são os sets previamente gravados nas mídias digitais. É um ciclo que vai apenas se renovando. Mas, como disse no início, algumas músicas só se consegue no K-7 para tocar.

VOUNOFLASH – quais eram as maiores dificuldades encontradas na época para usar as K-7?

Dj DJésus – Assim como os arranhões nos discos de vinil poderiam atrapalhar a sonorização de um evento, as fitas K-7, quando apresentavam problemas, eram ainda piores. O vinil pulou, passou, tomou vaia e o som segue… a fita, quando embolava, arrebentava, ou demonstrava qualquer outro tipo de problema, dificilmente o DJ já estava com a outra música no ponto para resolver o problema. Hoje, sempre se tem uma música no cue ou então, com poucos cliques, problema resolvido. Isso, fora quando se precisava utilizar uma caneta Bic para rebobinar a fita na marra…rsrsrs. Além disso, se existem atualmente as diferenças de bitrate e compactação das músicas digitais influenciando na qualidade das músicas tocadas nos eventos, além da qualidade de gravação dos K-7, (às vezes até mesmo cópia, da cópia, da cópia…) , ainda existia o problema da afinação dos cabeçotes dos players de k-7 (só soube disso, também na equipe de Som Crazy Tape) onde a fita que tocava hiper bem em um player, poderia tocar abafada ou aguda demais em outro. Era proibido mexer nos cabeçotes dos players da Sodeso (Clube da cidade), mas algumas vezes vi o Naldo (Campos) disfarçar do Luiz Carlos (que configurava o som) para afinar alguma fita que ele houvesse conseguido naquela semana. Quantas discussões por causa disso…hehehe.

VOUNOFLASH – Tem algum fato inusitado, engraçado ou embaraçoso que aconteceu usando fita k7?

Dj DJésus – Falando do Naldo Campos, presenciei ele fazendo uma montagem, justamente utilizando uma fita k7, apenas com o Rec e pause do toca fitas AKAI que utilizávamos, tendo como fonte os discos em vinil do Timex Social Club, Club Nouveau, Nu Shooz e outros medalhões da época, que ficou sensacional. Vejo os mashups da atualidade, servindo mais para assistir (quando tem vídeo no YouTube) ou ouvir, identificando as músicas ali apresentadas. Mas esta montagem do Naldo ficou dançante do início ao fim. Perfeita. E sempre fez sucesso nos eventos da Sodeso aos domingos. Ele me deu uma cópia e o DJ Zé Carlos, ao invés de fazer uma cópia para ele, vivia pegando minha fita emprestada para tocar a montagem. Resultado: Evaporou. Nunca mais vi. Ele não sabe onde foi parar a fita.  O Naldo nem deve se lembrar desta montagem e ponto final. Repassei diversas fitas k-7 que tenho aqui, na esperança de encontrar esta montagem, mas foi em vão. O bom é que encontrei uma fita com gravações da minha filha falando, quando ainda era criança. Uma ótima recordação.. DJ DJésus tocou em diversas festas de garagem nos anos 80 e fez parte da equipe CRAZY TAPE em Sobradinho, uma satélite localizada na área norte do Distrito Federal.

Considerações Finais

Se você nasceu na década de 80, certamente já girou muita fita k7 na caneta Bic, não é mesmo? Enfim, espero que tenham relembrado esses momentos. Até o próximo artigo!

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