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A dança é uma das expressões artísticas mais antigas. Desde a pré-história o homem utiliza essa arte. De lá até os dias atuais, vários foram os motivos em que se usou a dança para representar alguma coisa. Seja para celebrar a vida, nas lutas, conquista de um corpo perfeito, na busca de alimento, água, em ritos religiosos e pela sobrevivência. Mas foi na época do renascimento que a dança passou a ser apreciada pela nobreza, adquirindo um aspecto social e tornando-se mais complexa.
A partir daí passa de atividade lúdica, de divertimento, para uma forma mais disciplinada, surgindo repertórios de movimentos estilizados. Nos anos 80 a dança contemporânea começou a se definir, desenvolvendo uma linguagem própria. Com o surgimento da MTV, a febre do momento eram os clipes musicais. Michael Jackson se destacou no mundo da música e dança como o maior no quesito. Foi e ainda é um dos mais imitados. O filme Breakdance foi uma das referências quando se falava em dança naquela época. A galera que frequentava discotecas e ruas de lazer formavam grupos para as batalhas de dança que ocorriam. Era a vida imitando a arte.
Nesse artigo entrevistamos o dançarino brasiliense Ivo Xavier, que passou por algumas gerações no mundo da dança. Aqui ele fala da descoberta dos ritmos, a paixão pela dança e como era participar dessa arte numa época em que não havia rede social nem celular.
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Os Concursos de Dança da Época
VOUNOFLASH – Como foi seu primeiro contato com a dança?
IVO XAVIER – Nos anos 70 quando eu tinha uns 7 ou 8 anos minha tia me levava às festas aos sábados à noite onde as pessoas dançavam em ritmo de discoteca e copiavam os passinhos dos filmes “Saturday Night Fever (no Brasil, Os Embalos de Sábado à Noite” e “Grease — Nos Tempos da Brilhantina”). No final dos anos 70 comecei a frequentar as “ruas de lazer” onde eu via pessoas dançando Soul, funk e robozinho (não existia o Break Dance ainda). Via também os grupos de Soul e o Funk no programa “Viva a noite” no SBT. No começo dos anos 80 comecei a ver os primeiros movimentos de “Break Dance” nos filmes e programas de vídeo clipes da época. Michael Jackson veio logo depois com seus vídeo clipes maravilhosos.
VOUNOFLASH – Qual o estilo de dança que você mais se identificou?
IVO XAVIER – Depende da época. Na adolescência eu me identifiquei com o Break Dance, depois eu me apaixonei pela dança em grupos, achava muito legal o sincronismo. Logo mais tarde me deparei com a necessidade de aprimorar o estilo e postura, aí frequentei o ballet Clássico e Moderno. Hoje em dia estou no Charme mas procuro inserir uma vertente coreográfica com as experiências que tive ao longo da vida.
Os Grupos de Dança
VOUNOFLASH – Como foi a formação do primeiro grupo de dança? E de quantos participou?
IVO XAVIER – Grupos que participei:
Break Dance:
- Os Fantasmas da Opera Eléctrica
- The Break of Snakes (rsrsrs não tínhamos muita noção de inglês)
- Magrellu’s (integrantes conhecidos: GOG e DJ Freyrestein). Este grupo já estava formado e eu e meus amigos estávamos perdendo numa roda de desafio de break no salão da “Igrejinha” no Guará e os Magrellu’s apareceram e se juntaram a nós para enfrentar o outro grupo que era bastante numeroso. O outro grupo era a “Electric Boogaloo”. Após esse dia resolvemos entrar para o grupo Magrellu’s.
Funk (passinhos):
- Funk Machine
Ballet Clássico / Ballet Moderno
- Cia de Ballet Regina Maura
- Cia de Ballet Rosana Assad
- Proposta Cia de Dança
Grupo Atual:
- Grupo de dança Charme em Movimento
A Preparação, os Nomes e as Rixas Entre Grupos
VOUNOFLASH – Como era a preparação para os concursos de dança?
IVO XAVIER – Nos reuníamos na casa de alguém, geralmente no sábado à tarde e ensaiávamos os movimentos no caso do Break Dance e ensaiávamos os passos no caso do Funk.
VOUNOFLASH – Participou de batalhas de grupos de dança? Como eram naquela época?
IVO XAVIER – Já participei de concursos em que somente ganhavam os grupos que residiam na cidade sede, o DJ dizia que era para evitar brigas. Nós concordávamos, pois queríamos mesmo era dançar e não sair correndo do baile (Risos). Participei de muitos festivais de dança sem a necessidade de haver um ganhador, no salão do BAMBAM no Núcleo Bandeirante, todos os domingos os grupos se apresentavam no palco, sinto falta disso nos bailes atuais.
VOUNOFLASH – Como criavam os nomes dos grupos?
IVO XAVIER – Todos sugeriam um nome e fazíamos a votação.
VOUNOFLASH – Havia brigas entre os grupos? Como eram as provocações?
IVO XAVIER – Haviam sim, por ciúmes por causa de garotas ou durante os “desafios” em roda no meio do baile onde alguém esbarrava ou não esperava o outro sair da roda para entrar.
Os Figurinos, a Escolha das Músicas e Fatos
VOUNOFLASH – Como escolhiam o figurino?
IVO XAVIER – Geralmente alguém que desenhava bem dava uma ideia ou copiava um nome ou desenho de algum filme ou serie famosa da época, ex: “Thunder Cats”
VOUNOFLASH – Como escolhiam as músicas?
IVO XAVIER – Eram as músicas mais empolgantes da época, normalmente um grupo dançava com uma música, aí os outros grupos já descartavam aquela música para não copiar.
VOUNOFLASH – Participou de disputa de dança onde o DJ escolhia a música na hora da competição?
IVO XAVIER – Sim, nas ruas de lazer da época, qualquer música servia.
VOUNOFLASH – Conte algo inusitado ou engraçado que tenha acontecido nessa época.
IVO XAVIER – Uma vez eu cheguei em Sobradinho, foi a primeira vez que ia ao SODESO (Clube social da cidade). Meu grupo “Funk Machine” começou a dançar e eu pedia para eles não ficarem se amostrando muito pois tinha medo dos residentes acharem que éramos metidos demais e querer briga. Uma hora eu perguntei ao meu colega, morador de Sobradinho, quem era o “cara mais mala” dali, ele falou que era um cara chamado “Cruel”. Eu pedi para meu colega me apresentar para ele. Após eu fazer amizade com ele eu relaxei e comecei a dançar, daí todo fim de semana estava no SODESO.
Atualmente Ivo Xavier é coreógrafo do grupo de dança Charme em Movimento, do
Distrito Federal.