DJ Tânia e a Força da Mulher nas Pick-Ups

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Como em todo mercado de trabalho onde geralmente a maioria é de homens, há, nas DJs mulheres, uma cobrança maior para provarem seu talento. A cena, apesar de ter melhorado, ainda possui escassez de profissionais femininas. Mais uma vez, a força da mulher é colocada à prova.

Nas festas que tocam hip hop em Londrina surgiu uma ideia para mudar esse cenário. A oficina TPM Todas Podem Mixar. A ideia da oficina surgiu da necessidade da festa Funk Me de encontrar mais mulheres para tocarem na pista. A DJ paulistana Miria Alves foi a responsável por trazer a ideia da TPM para Londrina. A mulher vem conquistando cada vez mais seu espaço na sociedade e vencendo tabus. Na música, certamente, não seria diferente, né? Sabemos que a luta não é de hoje: as dificuldades, as superações e as conquistas das mulheres no mercado de trabalho vêm de longa data.

No Distrito Federal temos uma história de vida que mostra bem esse cenário. Uma mulher, negra, que mora na periferia, depois dos 40 anos decidiu ser DJ! Ser DJ não é tarefa fácil. Além disso, é preciso muito empenho e trabalho para qualquer um. Imagine então toda essa situação! Um grande desafio para a DJ Tânia, que contou pra gente sua curta trajetória, seus obstáculos, sonhos e decepções.

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A força da mulher nas pick-up
DJ Tânia Flash

Como Tudo Começou

VOUNOFLASH: Onde você nasceu?

DJ Tânia: Eu sou natural de BRASÍLIA, por mais de 40 anos morei em sobradinho.

VOUNOFLASH: Como começou a frequentar as discotecas, boates e festas de flashback?

DJ Tânia: Eu comecei a participar dos bailes em Sobradinho por volta de 1986, quando foi a primeira vez que fui ao SODESO (Clube social local desativado), às matinês aos domingos. Foi no Sodeso que aprendi a dançar com os meninos do grupo Azulim. Nessa época eu não participava de grupos de dança, pois eu só dançava com a galera dos passinhos. Era bom demais! Aos sábados eu ia para o BANCRÉVEA (outro clube local). Já quase no final dos anos 80 dei um tempo das festas. Depois comecei a ir a Boate VOGUE e Boate CASTELO. Nessa época foi perfeito. Nos divertíamos demais, pois não havia brigas de gangues e o baile seguia na maior harmonia. No ano de 2012 eu comecei a frequentar o Flash Bar em Sobradinho, onde encontrei amigos das antigas e conheci a Claudia Pontes, que me me fez o convite para trabalhar na divulgação dos bailes flashback realizados pelo DJ Raul. A Cláudia Melo sempre me apoiou, desde essa época, nos eventos que ela estava à frente, até os dias de hoje. Eu fiquei super feliz e comecei a abrir os eventos com mais uma pessoa. Foram dois grandes Bailes.

VOUNOFLASH: Participou de grupos de dança? Oficinas?

DJ Tânia: Fiz parte do grupo Charme Em Movimento por um tempo curto , mas que fez grande diferença no reconhecimento do que me tornei hoje. Participei também de oficinas de dança no Centro Educacional 04 de Sobradinho 2, coordenada pelo Professor Beto Santos. Após isso mudei para Ceilândia, onde fui convocada para ensinar a galera a dançar.

VOUNOFLASH: Como se tornou DJ?

DJ Tânia: Para eu me tornar DJ foi bem engraçado. Eu fiz uma Rua de Lazer com o meu esposo, o tempo estava muito quente! Um Grande DJ amigo nosso, me disse: “toca ai, Tânia!” Eu sorri e disse: “tá bom!” Não fugi do desafio! Fui colocando uma música, deixava terminar, soltava outra. Você acredita que ele gostou? (risos). Na semana seguinte fui convidada para tocar em outro lazer e topei, pois ate então eu achava que já estava pronta. Só que não. Quando eu parei de tocar nesse evento, fui em direção a outro amigo DJ e fiz a pergunta: “e ai gostou?” Ele respondeu rapidamente: “Não, você tocou muito mal”. Comecei a chorar, cheguei em casa aos prantos e disse ao meu esposo: “ Mudo meu nome se eu não aprender a tocar!” Nos dias seguintes fui treinando sozinha, ia observando o tempo das músicas, os bpms. Um dia, quando ele voltou do trabalho, eu estava tocando perfeitamente e mixando certinho.

Apoio no Início da Carreira, os Desafios e a Força da Mulher

VOUNOFLASH: Alguém te incentivou?

DJ Tânia: Meu esposo. Ele foi meu maior incentivador, me ajuda sempre, só que também deixa eu me virar sozinha. Além dele, tem os DJs que no início também me apoiaram que são o DJ DIDI MIX ,me fez o primeiro convite para tocar com ele , e Pedro França , que me ensinou a ligar a controladora e me ajudou muito.

VOUNOFLASH: Qual foi o maior desafio que enfrentou no início?

DJ Tânia: O meu maior desafio foi e é ser aceita em um espaço que até então seria só de homens. Acredito que várias DJs também passam pela mesma dificuldade.

VOUNOFLASH: As mulheres enfrentam várias situações com a discriminação. Você passa por isso estando num meio onde a maioria é de homens?

DJ Tânia: Eu sou exemplo disso. Já teve momento que eu teria 1 hora e 40 minutos para tocar e fui retirada com 30 minutos de apresentação do meu set. Eles torcem o nariz, dizem que o set é mixado pelo meu esposo que eu estou tocando no sinc e outras coisas mais. Fui tocar num evento e fui retirada para outro DJ tocar, sendo que eu ainda teria mais de 40 minutos. Sai de lá muito chateada, mas orgulhosa em saber que eu como DJ incomodo. Mas tudo bem, cheguei silenciosamente, faço meu trabalho, com respeito e responsabilidade.

Estilo Preferido e Projetos Futuros

VOUNOFLASH: Você tem um estilo de música preferido? Quais são os estilos que você toca?

DJ Tânia: Toco vários estilos, mas o meu preferido é o bom Flashback.

VOUNOFLASH: Quais são os seu planos/projetos como DJ?

DJ Tânia: Meus planos como DJ ainda estão indefinidos. Continuo recebendo convites para tocar nos eventos, participar de lives, documentários. Vou seguir por enquanto tocando, adquirindo experiência. sou DJs residente da maior festa da black music em Brasília, a MONSTER JAM. Reconhecimento dado pelo nosso querido DJ Freire Magrellos.

VOUNOFLASH: Tem algum fato engraçado que já aconteceu quando vc estava tocando?

DJ Tânia: Às vezes estou tocando e as pessoas pedem pra tirar fotos e adivinha? a pista bombando, eu fico confusa e desligo a música que esta tocando, a galera começa a gritar e os amigos DJs começam a sorrir e dizem: “tinha que ser a doida mesmo” (risos). Outro fato engraçado foi o choque que levei com cabelo molhado, deixei meu notebook cair. O coitado é um guerreiro, faltando pedaço! Fora que também às vezes a animação é tanta que deixo o som rolando e vou dançar com a galera, o povo vai a loucura.

A Força da Mulher

A DJ Tânia, certamente, é mais um exemplo da força da mulher brasileira. Uma guerreira que, acima de tudo, acreditou no seu talento e na sua força de vontade. Além disso, vem provando e mostrando a força da mulher comandando as pick-ups. Enfim, um grande exemplo de garra e determinação. Mas se você quiser conhecer um pouco mais e acompanhar o trabalho da DJ Tânia Flash, clique aqui!

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